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Jana Lauxen
Opinativa, porém sem pretensão.
07 outubro 2017
28 setembro 2017
Beleza Brutal
Tentaram te encaixotar
Te transformar em uma coisa pequenina
Fácil de carregar
Tentaram te classificar
Colocar uma venda em teus olhos
Pra você não mais enxergar
Tentaram te endurecer
Tornar teu ser pesado e escuro
Não queriam deixar você ver o dia alvorecer
Tentaram te calar
Fechar sua boca para sua voz silenciar
“Chega de gritar!”, eles disseram, “Chega de incomodar!”
Tentaram te domesticar
Te impor muitas regras, muitas normas
Te pôr numa jaula pra você não mais voar
Mas nem na jaula e nem na caixa você aceitou morar
A mordaça se recusou a usar
A venda em teus olhos não conseguiu te cegar
A dureza não foi capaz de te paralisar
Não sabiam eles que é impossível
Encaixotar, classificar, endurecer
Engaiolar
Um ser que é livre desde o seu nascer
Que não possui um par
Não sabiam que não dava
Pra calar, domesticar e prender
O indomável, o selvagem,
Aquilo tudo que vai dentro de você
Porque seu corpo não cabe em nenhuma caixa
O mar é pequeno demais pra você nadar
Seus olhos enxergam mesmo quando estão fechados
Seu coração bate forte demais pra apanhar
Seu grito grita alto,
Foi feito sob medida para confundir e perturbar
Minha beleza é brutal, machuca tua fragilidade muda
Você não me engana, é mais fraco do que se pode imaginar
Se assusta com a minha presença, minha existência
Te revolto e revoluciono apenas por aqui estar
Então vá tirando suas mãos de mim
Suas garras, meu amigo, não irão me agarrar
Sou moça, sou puta, sou minha, sou muito
Não sou mansa e nem santa
Você é pouco, não poderá me parar
#MexeuComUmaMexeuComTodas
22 setembro 2017
Wander
Tietar nunca foi comigo. Sei lá, fico
constrangida e desconfortável, não consigo explicar. Mas sexta-feira, dia 15,
foi IMPOSSÍVEL me controlar. Porque fui ao show do Wander Wildner, um dos caras
que mais ouvi em toda minha vida.
Ouvi Wander quando era adolescente. Ouvi
Wander enquanto crescia e me fodia, enquanto me metia em encrencas em série,
enquanto tentava entender o que diabos estava acontecendo aqui. Ouvi Wander
quando fui feliz, e quando fui triste também. Ouvi Wander quando fui morar
longe de casa e me sentia tão, tão, tão sozinha. De certo modo, era ele quem me
fazia companhia.
Ouvi Wander ontem, ouço Wander hoje, e com
toda a certeza do mundo ouvirei Wander amanhã.
Este foi o primeiro show dele que eu assisti,
e nunca vou esquecer – vide minha cara emocionada ali, ao lado dele, tietando
descaradamente.
E a única coisa que eu disse pra ele foi:
OBRIGADA.
Porque, sinceramente, não havia mais nada que
eu poderia lhe dizer.
18 setembro 2017
Você perde
Há alguns anos
Carazinho mergulhou em uma onda de violência sem precedentes. Casas e
estabelecimentos comerciais assaltados à luz do dia. Pedestres roubados em
pleno centro às três da tarde. Assassinatos quase não impressionam mais.
Neste contexto, uma
notícia abalou minha serenidade já escassa: estamos em vias de perder a
instalação de um campus do Instituto Federal de Educação, que, se vier para
Carazinho, disponibilizará curso superior gratuito para a comunidade, além de ensino
técnico profissionalizante. Uma oportunidade única para nossa cidade, que poderá
oferecer uma oportunidade igualmente única para aqueles que querem, mas não
podem estudar.
Os altos índices de
criminalidade em Carazinho e o descaso com o campus do Instituto – e com a educação
de um modo geral – estão diretamente ligados, uma vez que a violência aumenta
na mesma proporção em que as oportunidades diminuem.
Na minha visão, o
problema da educação em Carazinho (e no resto do país) não é um problema: é um
projeto. Estamos carecas de saber que governo nenhum, de partido nenhum, quer
um povo pensante e questionador. E qual a maneira mais eficaz de manter o povo
alienado, e consequentemente inofensivo? Negando-lhe a chance de aprender, de progredir
intelectualmente. Mantendo o nível mental coletivo baixíssimo, fica mais fácil
controlar a boiada. Um povo que pensa e questiona torna a vida dos políticos
mais complicada.
Acontece que este
projeto, de manter o povo mergulhado em sua própria ignorância, tem um furo
muito grande. Porque a falta de acesso à educação gera falta de oportunidades,
que por sua vez gera estagnação de crescimento. Afinal, pessoas que poderiam
estar estudando, produzindo, movimentando a economia, e talvez até gerando
emprego e renda, acabam inativas, e ao invés de agregar à sociedade, terminam
prejudicando-a.
Em médio e longo
prazo, quantos profissionais Carazinho perderá sem o campus do Instituto
Federal de Educação? Quantos talentos acabarão simplesmente desperdiçados? E
quantos não se tornarão o bandido que apontará uma arma para tua cabeça amanhã?
Manter a massa
ignorante pode servir para conservar esta secular estrutura política
corrompida, que beneficia meia dúzia em detrimento de muitos. Entretanto, a
manutenção da ignorância traz um efeito colateral grave, que afeta a todos, do rico
mais rico ao pobre mais pobre.
Porque o país onde
vive o político é o mesmo país onde eu, você e o bandido vivem. A cidade
violenta na qual eu, você e o bandido moramos é a mesma cidade violenta na qual
moram nossos governantes. Somos um só organismo, cujas partes precisam
funcionar em consonância para haver harmonia no todo.
Por isso, não são somente
os alunos que perdem o campus do Instituto Federal de Educação. Eu perco; você perde.
O mais rico e o mais pobre perdem. O prefeito, o ex-prefeito, o secretário e o
vereador também perdem.
Carazinho inteiro
perde.
15 setembro 2017
Uma pergunta:
Dizemos por aí que não nos importamos com a
opinião dos outros, mas sempre que possível buscamos convencer os outros das
nossas verdades, impondo nossas certezas, forçando-os a engolir o nosso ponto
de vista – e AI daquele que discordar!
Se a opinião do outro não importa, porque nos
importamos tanto em fazê-lo mudar de opinião?
07 setembro 2017
Quem são eles?
Você já parou pra pensar quem
são os homens que alimentam os dados estarrecedores de violência contra a
mulher? Quem são estes caras que agridem, espancam, estupram e matam, deixando
o Brasil na indigesta 5ª posição em um ranking global de violência contra a
mulher?
Seis em cada dez brasileiros
afirmam conhecer mulheres que foram ou são vítimas de violência. E se você
conhece a vítima, provavelmente conhece também o agressor, já que, na
acachapante maioria dos casos, a violência contra a mulher é cometida por seu
namorado, marido ou familiar.
Ou seja: o agressor não é um monstro
de sete cabeças no meio da neblina. Ele não é um estranho. Ele é teu amigo, teu
vizinho, teu pai, teu irmão. Ele pode ser – veja só! – até mesmo você, caro
leitor.
Infelizmente nenhum vem com
plaquinha de identificação, e este é o maior problema: o fato de poder ser
qualquer um faz com que todos pareçam ser, e é assim que nós, mulheres,
passamos a viver em constante estado de medo. Medo de usar uma saia muito
curta. Medo de pegar transporte público e privado. Medo de andar na rua às oito
da noite ou às três da tarde. Medo daquele desconhecido que caminha atrás de
mim na calçada. Medo de precisar chamar o encanador para consertar a torneira
quando estou sozinha em casa.
Toda mulher é uma vítima em
potencial apenas por ser mulher. Mas os homens que não são violentos também
pagam um preço pelos que são, e acabam indiretamente afetados pelo mesmo
machismo que nos agride, nos estupra e nos mata. Afinal, se toda mulher é uma vítima
em potencial apenas por ser mulher, todo homem é um abusador em potencial
apenas por ser homem.
Seria diferente se nós,
mulheres, não precisássemos estar sempre alerta. Se pudéssemos confiar no
motorista, no encanador, no vizinho, no estranho com quem dividimos a calçada,
no amigo que nos dá carona depois da festa. Seria diferente se pudéssemos
confiar em ti, leitor.
Então, se você é homem e não
agride nenhuma mulher; se você respeita uma desconhecida de minissaia na rua do
mesmo jeito que respeita sua mãe; se você não bate, não humilha, não estupra e
não mata; antes de se levantar indignado, com o dedo em riste, dizendo “mas nem
todo homem...” ou “mas eu não sou assim...”, cale sua boquinha, ouça com
atenção e observe o seu entorno.
Porque palavras rasas de autodefesa
não mudam a realidade, não diminuem o nosso medo e nem fazem com que menos
mulheres sejam agredidas e violadas.
Se você não é, ótimo, mas olhe
em volta: você verá que muitos daqueles que te rodeiam, teus amigos do peito, teus
bróders, teus camaradas, são os mesmos caras que alimentam as estarrecedoras
estatísticas da violência contra a mulher, e me fazem ter medo de chamar o
encanador quando estou sozinha em casa.
Você também conhece o agressor.
Por isso, se o teu amigo pratica violência e você se cala, saiba que você é
conivente. E conivência, meu caro, é cumplicidade. Logo, o nosso medo constante,
infelizmente, sempre se justifica.
03 setembro 2017
Sexta-feira foi um dia muito difícil.
Estive no velório do pai de uma das minhas
melhores amigas. Mas o tio Teco não era apenas o pai de uma das minhas melhores
amigas. Ele era meu amigo também.
Sempre que eu ia visitar a Ana ele passava lá
para me dar um abraço – e sempre (SEMPRE!) trazia umas cervejas a mais, porque
dizia que a Ana comprava pouca cerveja quando eu ia lá, hahaha.
Nunca vou me esquecer dos abraços, da
conversa boa e leve, do sorriso largo e farto que o tio sempre trazia no rosto,
na alma e no coração.
Um ser humano especial, de uma energia linda
e vibrante, que vai fazer uma falta danada neste mundo careta e quadrado, onde
tantos reclamam por tão pouco.
O tio viveu como quis, e isso eu admiro demais:
ter coragem de ser quem se é, e assumir a vida que você escolheu viver. Apenas
existindo, o tio me ensinou muito.
Após o velório, triste e cansada, entrei na
loja Beija-Flor, da Taly, e me deparei com este quadrinho, cuja foto tirei.
Sorri discretamente quando o vi.
Porque eu sei, com a mais absoluta certeza,
que a vida continua. E é justamente esta a beleza da vida: ela nunca termina.
Como disse o padre durante o velório: o tio
deixou o mundo das criaturas e retornou para o mundo do criador.
E é lá que a verdadeira vida acontece.
Tchau, tio.
Até qualquer dia, meu amigo querido!
30 agosto 2017
Chega mais, jornal "Tribuna"!
Sempre achei curioso: há quatro anos eu
escrevo para o jornal O Informativo Regional, de Sananduva, e há um ano eu escrevo para o jornal A Folha, de Não-Me-Toque. Já fui colunista
de outros jornais e de alguns portais também, mas nunca antes na história de
Jana Lauxen eu escrevi para um jornal de Carazinho – cidade onde nasci e onde
vivo há quase 15 anos.
Bem que dizem que santo de casa não faz
milagre. Ou que, em casa de ferreiro, o espeto é de pau.
Por isso, fico realmente muito feliz em
anunciar que sou a mais nova colunista do mais novo jornal desta cidade que
chamamos de nossa: o jornal Tribuna,
cujo lançamento aconteceu ontem.
O convite veio da amiga e jornalista Jennifer Schmidt Mendez, e eu aceitei no ato! Assim, a cada 15 dias estarei na página 02
do jornal Tribuna dando opiniões que
ninguém pediu e metendo meu bedelho em assuntos dos mais variados.
O mais legal é que o Tribuna vem com uma proposta realmente diferente: fazer jornalismo.
Esmiuçar as notícias, ir atrás do que acontece. Vocês dirão: mas este é o papel
de qualquer jornal, oras bolas! Mas, na prática, sabemos que a maioria das
redações de jornais se confunde com seu departamento comercial, e nunca sabemos
se o que estamos lendo é notícia ou informe publicitário, fato ou factoide,
realidade ou ficção.
O Tribuna
quer fazer diferente, e eu quero fazer diferente junto com o Tribuna.
Então só posso agradecer pela oportunidade,
pelo espaço, pela confiança em meu trabalho, e dizer que é muito massa
finalmente escrever para a cidade onde eu nasci e na qual eu vivo.
Porque santo de casa faz milagre sim, e em
casa de ferreiro, o espeto nem sempre é de pau.
Obrigada, e vida longa ao jornal Tribuna!
16 agosto 2017
Corpo são, mente insana
Quando
nosso corpo adoece vamos ao médico, fazemos exames, tomamos remédio, buscamos
ajuda. Se o rim inflamar, se o estômago estufar, se a cabeça doer, se o braço inchar,
não há um ser humano sobre a Terra que não procure ajuda médica.
Contudo,
não é apenas nosso corpo que adoece. Nossa mente e nossas emoções também. A
diferença é que, quando surge a depressão, as crises de ansiedade, o estresse,
geralmente não procuramos ajuda médica. Quando a doença se manifesta em nosso
emocional, sumariamente a ignoramos – de um modo que jamais ignoramos as
doenças que se manifestam em nosso corpo.
Acontece
que somos uma sociedade extremamente materialista. Não acreditamos em nada que
não possa ser pesado, medido, avaliado, encaixotado, comprovado, rotulado,
tocado. Se eu não vejo, não existe.
Daí por
que tantas doenças emocionais passam despercebidas: seu diagnóstico é mais
sutil, suas feridas são imperceptíveis ao olho nu. Uma tomografia pode mostrar
um tumor no estômago, mas qual tomografia pode indicar um tumor nas emoções?
Deste
modo, tanto o doente quanto a família do doente passam a tratar a doença emocional
como algo menor. Se descobrem um câncer, todos se comovem e se mobilizam; mas
se descobrem uma depressão, a comoção e a mobilização caem para um terço. Sendo
que, não raramente, a depressão mata mais do que o próprio câncer.
Resultado:
somos uma sociedade doente vivendo como se fosse saudável. Uma sociedade que
cuida do corpo com obsessão, mas negligencia totalmente suas emoções. E dá-lhe
desequilíbrio, sofrimento, loucura generalizada.
Corpo
são, mente insana.
É
impossível viver com um rim doente. A dor, a febre e o desconforto impediriam
qualquer um de fazer qualquer coisa. Do mesmo jeito, é impossível viver com as
emoções doentes.
Porque
a dor, a febre e o desconforto emocionais também são paralisantes, incapacitantes
e potencialmente fatais.
14 agosto 2017
Maratona Literária
Nossas crianças são como
sementinhas: precisam ser plantadas, regadas, protegidas e tratadas com todo
amor e cuidado, para que possam nascer e florescer como cidadãos.
E a literatura é o melhor adubo
para o plantio de cidadãos conscientes, inteligentes e, acima de tudo, humanos.
Pois são os livros que nos ensinam a pensar com autonomia; são os livros que
nos tornam intelectualmente independentes; que nos libertam da ignorância que
machuca, cega e acorrenta.
Um país sem leitores é um país
sem cidadãos.
Assim, esta última semana foi
muito especial para mim, e para a Editora Os Dez Melhores também.
Porque, através de uma parceria
muito bacana com o Sesc, pude
visitar cinco escolas públicas aqui de Carazinho, e conversar com essa gurizada
que é o futuro do nosso Brasil querido e judiado, tentando provar para eles que
a literatura não é chata não; que a literatura é nossa amiga, nossa aliada,
nossa guardiã.
A literatura é a chave que abre
a porta desta cela na qual estamos todos encarcerados.
Eu acredito que plantamos uma
sementinha promissora nesta semana que passou – uma sementinha que, não demora,
vai nascer, crescer e florescer.
Mas saibam que vocês, queridos
alunos, também plantaram uma sementinha em mim. Uma sementinha de esperança; de
crença em um amanhã diferente, novo, bonito, mais colorido, mais vibrante. Mais
feliz.
Um amanhã onde seremos donos de
nossas próprias opiniões, e onde enxergaremos muito além dos muros altos que
apenas servem para separar nossos quintais.
Estão plantadas as sementes, e
eu sei que elas não demoram a brotar.
Afinal, o amanhã logo vem.
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Foto: Fernão Duarte. |
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